- Coroas - Mirian Goldenberg
- Uma reflexão sobre a entrega dos filhos em adoção pelas mães biológicas - Por Lara Patrícia Wunderlich
- Livre de fraldas por Mariana
- Maria Otília - "É incivilizada uma sociedade que viola os direitos de suas mulheres"
Maria Otília - Violência contra as mulheres
O Anuário das Mulheres Brasileiras 2011 publicou, recentemente, estudo segundo o qual 43% das mulheres já foram vítimas de violência doméstica. Ainda segundo os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de todas as mulheres agredidas no país, dentro e fora de casa, 25,9% foram vítimas de seus cônjuges ou ex-cônjuges. A presidente do Conselho Municipal da Mulher,Maria Otília, militante histórica dos movimentos sociais, afirma que, embora a Lei Maria da Penha cumpra um importante papel, o que deve mesmo haver é uma mudança de mentalidade, tanto do homem quanto da mulher. “É preciso construir um novo homem e uma nova mulher, capaz de resolver seus conflitos através do diálogo e ponderando a melhor solução para ambos, onde o conceito de família seja o de defender o bem-estar de todos os seus membros”.
Segundo a militante feminista, a Lei Maria da Penha, sancionada cinco anos atrás pelo ex-presidente Lula, é um instrumento jurídico, conquistado com muita luta e cuja aplicação tem encontrado resistência em setores conservadores do Poder Judiciário, recebendo, por outro lado, a defesa intransigente de setores progressistas. “A lei tem causado uma celeuma jurídica acirrada, por isso é recomendável que as mulheres utilizem esse instrumento e a conheçam, pois esta prevê ações para a eliminação da violência, baseada em medidas educativas”.
Segundo a militante feminista, a Lei Maria da Penha, sancionada cinco anos atrás pelo ex-presidente Lula, é um instrumento jurídico, conquistado com muita luta e cuja aplicação tem encontrado resistência em setores conservadores do Poder Judiciário, recebendo, por outro lado, a defesa intransigente de setores progressistas. “A lei tem causado uma celeuma jurídica acirrada, por isso é recomendável que as mulheres utilizem esse instrumento e a conheçam, pois esta prevê ações para a eliminação da violência, baseada em medidas educativas”.
Maria Otília afirma que a medida punitiva é o ponto extremo para coibir a violência. “Ninguém pode ser punido por antecipação”. Apesar de todas as políticas públicas implementadas nos últimos anos, com o objetivo de amenizar o impacto do problema, a violência doméstica contra mulheres não foi suprimida e, na visão de Maria Otília, esta só será eliminada quando a sociedade se emancipar humana e socialmente.
“A resolução do fator econômico puro e simplesmente não eliminará a sua prática, visto que sua essência não está cristalizada na pobreza. A eliminação da violência somente se dará sob a égide de um sistema em que a construção da dignidade humana seja coletiva e socializada. Faz-se necessário perpassar pelo imaginário social a compreensão de que as mulheres são seres humanos dotadas de dignidade, capacidade e detentoras de direitos e que a violência doméstica viola os direitos humanos dessas mulheres. Uma sociedade que viola os direitos de suas mulheres é uma sociedade incivilizada e incapaz de se desenvolver humana e socialmente”.
Mirian Goldenberg |
Coroas
Jornal do Brasil
Sociedade Aberta
COROAS
Mirian Goldenberg
Quando fiz 40 anos entrei em uma crise profunda e inesperada. Fui, pela primeira vez, a uma dermatologista para que ela me receitasse algum hidratante e um filtro solar, produtos que nunca tinha consumido até então. Após um breve exame da minha pele, ela, observando atentamente meu rosto, perguntou: "Por que você não faz uma correção nas pálpebras? Elas estão muito caídas. Você vai ficar dez anos mais jovem." Sem me dar tempo para responder, continuou: "Por que você não faz um preenchimento ao redor dos lábios? E botox na testa para tirar as rugas de expressão? Você vai rejuvenescer dez anos." Paguei a cara consulta, que ficou mais cara ainda, pois provocou uma crise existencial que durou quase um ano. "Faço ou não faço a cirurgia nas pálpebras? E o preenchimento nos lábios? E o botox na testa? Se eu fizer tudo o que ela me recomendou, poderia ficar dez anos mais jovem. Eu sou culpada por estar envelhecendo. A culpa é minha!"
O mais surpreendente é que nunca havia tido esse tipo de preocupação antes dessa visita. Confesso que fico feliz quando dizem que pareço ser muito mais jovem do que realmente sou, especialmente quando os mais generosos (ou mentirosos) dizem que pareço ter 37 anos. A dermatologista me fez enxergar rugas e flacidez que antes eram invisíveis para mim e que, a partir de então, passei a desejar eliminar para "ficar dez anos mais jovem". Em minhas palestras e aulas, costumo dizer que tive e tenho muita vontade de fazer todos os procedimentos para o rejuvenescimento presentes no mercado. Digo, de forma irônica, que só não faço tudo o que gostaria por motivos profissionais: para não perder a legitimidade que conquistei como crítica dessa ditadura da juventude e da perfeição. Na verdade, não fiz e não faço, pois tenho muito medo de transformar o meu rosto, de não gostar de me ver com a face paralisada ou esticada demais. Gosto e me sinto muito bem com o corpo que tenho hoje e ainda não sinto o estigma de ser uma coroa.
Mergulhei profundamente na crise dos 40, saí dela após um ano de sofrimento e comecei a brincar com o fato de estar envelhecendo. Alguns anos depois, como forma de criar uma resistência política lúdica, inventei o grupo Coroas, composto por mulheres de mais de 50 anos. Tentei seduzir minhas amigas para participarem dele e todas recusaram veementemente. Algumas disseram: "Se for Coroas Enxutas eu participo." Outras: "Se for Jovens Coroas ou Coroas Gostosas, pode ser." A maioria reagiu indignada: "Eu não sou uma coroa!" Um amigo me disse que se eu nomeasse o grupo com K, Koroas, talvez tivesse mais sucesso, pois ficaria muito mais chique.
Após uma palestra em Copacabana, na qual defendi a criação do Coroas, um grupo de mulheres sugeriu que eu desse um curso intitulado "A arte de envelhecer, com Mirian Goldenberg" ou "Como ser uma coroa sem sofrer". Em uma reunião, em Porto Alegre, para pensar a criação de novos programas de televisão, sugeri que fosse feito um com o nome Coroas, mostrando a vida de diferentes mulheres comuns que passaram dos 50 anos. Apesar de todos gostarem muito da idéia, ela não se efetivou.
E assim, até hoje, sou a fundadora e única integrante do grupo Coroas. Em todos esses anos de tentativas frustradas de difundir a idéia do Coroas, percebi que é mais fácil criar um grupo com indivíduos que são explicitamente estigmatizados do que com aqueles que podem e querem esconder o possível estigma. Um bom exemplo é o do grupo Criolinhas, estudado em dissertação de mestrado por uma aluna. As adolescentes negras pesquisadas passaram a usar um termo usual de acusação, criola, como categoria de afirmação de uma identidade valorizada por elas. Eu queria fazer o mesmo com o termo coroa: transformar uma categoria de acusação em uma identidade valorizada positivamente por todas as mulheres que estão envelhecendo. Mas o fato de o estigma poder ser encoberto, o fato de as mulheres de mais de 50 anos acharem que não são coroas ou que podem parecer mais jovens do que realmente são e o fato de não se sentirem valorizadas socialmente ao assumirem a própria idade impossibilitaram a criação do meu grupo.
Como não consegui, até hoje, viabilizar a existência do grupo Coroas, do programa de televisão ou de qualquer outra idéia semelhante, resolvi que o meu livro mais recente teria como título Coroas. Assim, me assumi publicamente como fundadora, única integrante e militante ativa do grupo Coroas e também apresentei algumas reflexões iniciais sobre o envelhecimento feminino. O título é resultado do questionamento permanente sobre o significado de ser mulher na cultura brasileira e é, também, uma forma de resistência política. Busco desestigmatizar a categoria coroas e combater todos os estereótipos e preconceitos que cercam a mulher que envelhece.
Coroas sem adjetivos e sem K. Simplesmente Coroas.
MIRIAN GOLDENBERG - antropóloga, professora da UFRJ e autora de "Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade" (Ed. Record)
Mirian Goldenberg
Quando fiz 40 anos entrei em uma crise profunda e inesperada. Fui, pela primeira vez, a uma dermatologista para que ela me receitasse algum hidratante e um filtro solar, produtos que nunca tinha consumido até então. Após um breve exame da minha pele, ela, observando atentamente meu rosto, perguntou: "Por que você não faz uma correção nas pálpebras? Elas estão muito caídas. Você vai ficar dez anos mais jovem." Sem me dar tempo para responder, continuou: "Por que você não faz um preenchimento ao redor dos lábios? E botox na testa para tirar as rugas de expressão? Você vai rejuvenescer dez anos." Paguei a cara consulta, que ficou mais cara ainda, pois provocou uma crise existencial que durou quase um ano. "Faço ou não faço a cirurgia nas pálpebras? E o preenchimento nos lábios? E o botox na testa? Se eu fizer tudo o que ela me recomendou, poderia ficar dez anos mais jovem. Eu sou culpada por estar envelhecendo. A culpa é minha!"
O mais surpreendente é que nunca havia tido esse tipo de preocupação antes dessa visita. Confesso que fico feliz quando dizem que pareço ser muito mais jovem do que realmente sou, especialmente quando os mais generosos (ou mentirosos) dizem que pareço ter 37 anos. A dermatologista me fez enxergar rugas e flacidez que antes eram invisíveis para mim e que, a partir de então, passei a desejar eliminar para "ficar dez anos mais jovem". Em minhas palestras e aulas, costumo dizer que tive e tenho muita vontade de fazer todos os procedimentos para o rejuvenescimento presentes no mercado. Digo, de forma irônica, que só não faço tudo o que gostaria por motivos profissionais: para não perder a legitimidade que conquistei como crítica dessa ditadura da juventude e da perfeição. Na verdade, não fiz e não faço, pois tenho muito medo de transformar o meu rosto, de não gostar de me ver com a face paralisada ou esticada demais. Gosto e me sinto muito bem com o corpo que tenho hoje e ainda não sinto o estigma de ser uma coroa.
Mergulhei profundamente na crise dos 40, saí dela após um ano de sofrimento e comecei a brincar com o fato de estar envelhecendo. Alguns anos depois, como forma de criar uma resistência política lúdica, inventei o grupo Coroas, composto por mulheres de mais de 50 anos. Tentei seduzir minhas amigas para participarem dele e todas recusaram veementemente. Algumas disseram: "Se for Coroas Enxutas eu participo." Outras: "Se for Jovens Coroas ou Coroas Gostosas, pode ser." A maioria reagiu indignada: "Eu não sou uma coroa!" Um amigo me disse que se eu nomeasse o grupo com K, Koroas, talvez tivesse mais sucesso, pois ficaria muito mais chique.
Após uma palestra em Copacabana, na qual defendi a criação do Coroas, um grupo de mulheres sugeriu que eu desse um curso intitulado "A arte de envelhecer, com Mirian Goldenberg" ou "Como ser uma coroa sem sofrer". Em uma reunião, em Porto Alegre, para pensar a criação de novos programas de televisão, sugeri que fosse feito um com o nome Coroas, mostrando a vida de diferentes mulheres comuns que passaram dos 50 anos. Apesar de todos gostarem muito da idéia, ela não se efetivou.
E assim, até hoje, sou a fundadora e única integrante do grupo Coroas. Em todos esses anos de tentativas frustradas de difundir a idéia do Coroas, percebi que é mais fácil criar um grupo com indivíduos que são explicitamente estigmatizados do que com aqueles que podem e querem esconder o possível estigma. Um bom exemplo é o do grupo Criolinhas, estudado em dissertação de mestrado por uma aluna. As adolescentes negras pesquisadas passaram a usar um termo usual de acusação, criola, como categoria de afirmação de uma identidade valorizada por elas. Eu queria fazer o mesmo com o termo coroa: transformar uma categoria de acusação em uma identidade valorizada positivamente por todas as mulheres que estão envelhecendo. Mas o fato de o estigma poder ser encoberto, o fato de as mulheres de mais de 50 anos acharem que não são coroas ou que podem parecer mais jovens do que realmente são e o fato de não se sentirem valorizadas socialmente ao assumirem a própria idade impossibilitaram a criação do meu grupo.
Como não consegui, até hoje, viabilizar a existência do grupo Coroas, do programa de televisão ou de qualquer outra idéia semelhante, resolvi que o meu livro mais recente teria como título Coroas. Assim, me assumi publicamente como fundadora, única integrante e militante ativa do grupo Coroas e também apresentei algumas reflexões iniciais sobre o envelhecimento feminino. O título é resultado do questionamento permanente sobre o significado de ser mulher na cultura brasileira e é, também, uma forma de resistência política. Busco desestigmatizar a categoria coroas e combater todos os estereótipos e preconceitos que cercam a mulher que envelhece.
Coroas sem adjetivos e sem K. Simplesmente Coroas.
MIRIAN GOLDENBERG - antropóloga, professora da UFRJ e autora de "Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade" (Ed. Record)
Uma reflexão sobre a entrega dos filhos em adoção pelas mães biológicas
Por Lara Patrícia Wunderlich
A ideia de desenvolver uma pesquisa sobre as questões referentes às mães que entregam seus filhos para adoção surgiu pelo meu envolvimento com o Grupo de Estudos e Apoio à Adoção na cidade de Joinville (GEAAJ) desde 2004. Nosso trabalho voluntário dedicado à causa da adoção já conquistou o respeito e o reconhecimento da comunidade, inclusive no âmbito acadêmico. Na mesma instituição em que me formei como psicóloga, inicialmente entrelacei algumas questões referentes à adoção sob forma de apresentações de trabalhos aos alunos do curso de psicologia, como o projeto “Falando sobre Adoção”. Nesse percurso, observei a falta de trabalhos no meio científico sobre as mulheres que entregam seus filhos em adoção, os motivos da decisão, os fatores que neste sentido influenciaram e qual o significado da separação dos filhos.
Como psicanalista, além de pesquisar as possíveis influências na decisão das mães biológicas em doar um filho e tentar responder a tal questão, a proposta foi desenvolver um trabalho que procurasse contemplar não somente o desejo de não exercer a função materna, mas também o trabalho de escuta como um todo, com as especificidades e a subjetividade que são próprias de cada história, propiciando assim “um lugar” a essas mães biológicas cujo desejo manifesto foi entregar um filho em adoção. Considerei então o valor de cada história em sua singularidade para analisar os motivos conscientes e inconscientes que levaram as mães ao ato de doar.
Com o apoio do Fórum da comarca de Joinville, em Santa Catarina, contei com a participação de mães que tinham entregado seus filhos em adoção no mesmo local. Minha pesquisa bibliográfica foi complementada por estudo exploratório, e a escuta da história destas mulheres/mães auxiliou no desejo de se poder dizer algo sobre elas.
Na pesquisa, os fatores econômicos indicaram uma classe econômica baixa – mas não foi este o único motivo que levou à doação de um ou mais filhos, pois se acentuou na minha escuta a posição subjetiva revelada através das falas das mães a respeito da herança deixada pelas marcas constitutivas da relação com suas próprias mães. A dificuldade em exercer a função materna das entrevistadas foi atravessada por seus próprios conflitos internos e pelo sentimento de rejeição e abandono quando crianças. Consequentemente projetaram externamente algo que está presente em sua subjetividade; ou seja, na sua posição materna reatualizaram o abandono vivido na infância.
A partir desse pressuposto, a doação de um filho pode ser uma expressão singular das trocas afetivas entre as mães biológicas da pesquisa e suas próprias mães. O ser mulher e o ser mãe e a relação com seus filhos guardaram nítidas relações com aquilo que foi vivenciado na condição de filhas, e a construção da função materna parece ter sido influenciada pela história familiar de cada uma.
Outro fator observado foi o papel do lugar que as crianças entregues em adoção ocupavam para essas mães, o qual, levando-se em conta a narrativa consciente, apresentou variações para cada uma das entrevistadas. Porém, ao lançar um olhar mais subjetivo, contemplando os significados inconscientes, todas as crianças eram frutos de relacionamentos sem vínculo de afeto.
Apesar desse aspecto comum em entregar seu filho em adoção entre as mulheres entrevistadas, existiram sentimentos que as diferenciam – e um deles é o amor materno e o desejo de exercer a função materna mesmo se os filhos foram gerados “acidentalmente”. Sabemos que, para a psicanálise, se a mulher tem um filho é porque houve um desejo em tê-lo – mas nem todas as mulheres que entregaram um filho em adoção o fizeram sofrendo intensamente a dor da perda, pois não desejaram efetivamente exercer a função materna. Entretanto, quando este desejo existe e é atravessado pela impossibilidade objetiva de exercê-lo, a entrega do filho é marcada pela dor da perda e pelo sofrimento. Ou seja, a decisão da mãe em entregar um filho para adoção pode ter vários significados, desde a aceitação da impossibilidade de criá-lo, sua rejeição em relação ao seu filho por seus próprios conflitos internos ou o desejo de não exercer a função materna.
Sob a ótica da psicanálise, pode-se deduzir que maternidade e gestação não são absolutamente a mesma coisa. Não se pode dizer que o processo de tornar-se mãe é adquirido a partir da gestação. É preciso compreendê-lo a partir da constituição subjetiva da mulher que engravida com sua própria história singular: a que desejo remete o desejo de se ter um filho, a relação com as figuras materna e paterna, suas identificações com a própria mãe e o lugar que tem o pai e o homem na vida destas mulheres. São estas questões que a psicanálise contribui para responder que lugar a maternidade, e cada criança, vêm ocupar para essas mulheres – e como cada mulher responde ao enigma do feminino, já que o feminino e seu enigma correspondem à subjetividade da cada mulher.
Com o olhar da psicanálise espero ter esclarecido alguns questionamentos que até agora encobriam o tema, e ter também propiciado alguma compreensão da situação da mãe que entrega um filho, da relação que existe ou não entre mãe e filho e um certo entendimento intrínseco do sistema familiar e social no qual a mãe que entrega um filho para adoção esteve e está incluída, respeitando sempre a singularidade de cada situação.
Sabemos que o processo de adoção revela-se como um dos mais importantes na área da Infância e da Juventude, visto que objetiva a colocação de uma criança em família substituta de forma definitiva e irrevogável. Para tanto, é claro, aponto a necessidade de preparação e qualificação dos profissionais para que não sejam assumidas atitudes preconceituosas ou pautadas em “boas intenções”, mas cientes do real conhecimento acerca da situação tratada.
Infelizmente, o preconceito e pontos de vista sem a necessária reflexão teórica e metodológica ainda permeiam muitos espaços por onde passam estas mulheres. Preconiza-se incessantemente no processo de entrega em adoção a defesa dos interesses da criança (ECA), e o posicionamento mais comum dos profissionais diante das mães biológicas é o de que elas não têm a mesma importância que o filho. Atualmente, a doação de um filho é simbolizada pela “rejeição e abandono de uma criança pela mãe”. É preciso desmitificar essa associação genérica entre adoção e abandono. Ainda, preconiza-se muitas vezes manter o vínculo com a mãe biológica a qualquer preço. A permanência de mães com um filho sem que esta tenha condições externas, internas ou ambas para fazê-lo, pode levar as mães a abandonem seus filhos em outro momento, favorecendo a ocorrência do problema da adoção tardia e colocando em risco o desenvolvimento afetivo do bebê.
Considerando tais fatores, pode-se verificar que a ausência de elaboração adequada na doação de um filho pode explicar alguns casos nos quais o ciclo abandono-adoção tende a se repetir, pois, das mulheres entrevistadas, apenas uma doou um único filho. Esta ocorrência aponta para a necessidade de favorecer um espaço onde seja possível escutá-las. .
Para essas mães, concordar em participar da minha pesquisa falando individualmente sobre sua história pode ter se configurado como uma oportunidade de refletir sobre seus sentimentos e percepções. Trabalhar na escuta a partir das palavras (ou do silêncio) possivelmente representou para elas um momento de reflexão, possibilitando uma elaboração para uma nova direção.
Como bem disse Lacan: “O discurso freudiano trilha, no enunciado do problema ético, algo que por sua articulação permite-nos ir mais longe do que nunca se foi naquilo do que é o essencial do problema moral”.
Lara Patrícia Wunderlich é psicóloga, psicanalista e voluntária do GEAAJ. Participa de fóruns de debates para discutir o assunto da adoção, encoraja iniciativas de políticas públicas e sociais na construção de projetos institucionais de acompanhamento às mães e desenvolve projetos na criação de grupos de orientação aos profissionais, promovendo assim aceitação e apoio social às mães que entregam seus filhos em adoção.
Lara Patrícia Wunderlich é psicóloga, psicanalista e voluntária do GEAAJ. Participa de fóruns de debates para discutir o assunto da adoção, encoraja iniciativas de políticas públicas e sociais na construção de projetos institucionais de acompanhamento às mães e desenvolve projetos na criação de grupos de orientação aos profissionais, promovendo assim aceitação e apoio social às mães que entregam seus filhos em adoção.
Olá, tudo bem?
Quando foi divulgado no meu Facebook a foto da minha filha Mariana, segurando em um penico a minha neta Joana, muitos comentários foram feitos em toda a web questionando o método. Pouco se sabe, mas tal técnica é chamada de "higiene natural", em português, e "elimination communication", em inglês.
Antiga e comum em alguns países do oriente, essa é uma escolha de muitos pais pelo mundo que viram mais vantagens que o uso de fraldas. Por isso, pode ser uma boa escolha para aqueles que irão acompanhar o crescimento de seus bebês de perto, o tempo todo. Leia abaixo o relato exclusivo de Mariana, que conta tudo sobre a higiene natural que pratica com sua filha - desde quando a pequena Joana tinha duas semanas de idade!
"O método da comunicação da eliminação, ou ‘elimination communication’, está cada vez mais famoso no ocidente. Existem vários livros sobre o tema, dos quais eu li dois: um da autora americana Ingrid Bauer, intitulado ‘Diaper Free’, e o outro da famosa e expert no assunto Laurie Boucke, ‘Infant Potty Training’. Há diversos nomes para essa abordagem da higiene com os bebês e cada pessoa usa o termo que mais se aproxime do que é realizado.
O essencial é que tentemos ler os sinais que os pequenos mostram, em diversos níveis, e que respondamos às suas necessidades básicas - no caso, de eliminação. Os bebês têm as mesmas sensações que os adultos ao fazer cocô e até xixi. O que precisamos é estar atentos e disponíveis para ajudá-los, como com todo o resto: alimentação, vestuário, banhos e também (porque não?) xixi e cocô. É fantástico como as respostas são rápidas! E como ficam felizes de se comunicarem conosco em tantos níveis.
Não me vejo mais trocando fraldas, como fiz nas primeiras duas semanas da pequena. É algo único, mas não para todo mundo. Precisa haver um profundo interesse da mãe, ou cuidador, em se comunicar com o bebê e responder às necessidades deles na hora em que elas aparecem - isso é fundamental. Na troca de fraldas, lidamos com a eliminação do bebê após ela acontecer. Na higiene infantil isto é feito antes, ou melhor, no ato da necessidade dos anjinhos.
Um dado interessante é o de que 50% das crianças do mundo são criadas sem fraldas. Em quase todo o oriente, as culturas vêm lidando com a eliminação de seus bebês através da observação de seus sinais que, depois de um pouco de prática, se tornam óbvios. Fico imaginando quantos choros de bebês são mal interpretados, quando o que eles querem é só fazer um xixizinho básico.
Comecei a higiene natural quando Joana estava com duas semanas de vida fora do útero. Antes do nascimento da pequena eu havia optado por usar fraldas de pano, mas com o calor resolvi deixá-la sem fraldas e fui pesquisar na internet qual seria a fralda perfeita, para que minha pequena não ficasse toda cheia de calor! Foi quando li um artigo sobre o ‘elimination communication’. Na hora me identifiquei com o conceito e meu marido e eu nos jogamos de cabeça, deixando Joana sem fraldas 100% do tempo que ficávamos em casa. Agora, aos três meses da boneca, de maneira geral não usamos fraldas - incluindo saídas. É incrível como os bebês tem controle e capacidade de reter urina, que aumenta com o passar das semanas.
Sinto progresso na nossa comunicação a cada dia. Vai ficando fácil e natural, por isso a confiança de sairmos de casa sem que a Joana use fraldas! Uso banheiros nos locais públicos, colocando minha Joana para fazer seu xixi na pia. Há poucos dias introduzi o pinico infantil, e o levo nas viagens e na casa dos vovôs. Ela agora usa calcinha para nenês! Que lindo é ver um bebê sem aquela almofada de fralda no meio das perninhas tão pequenas. Há pessoas que praticam o método usando fraldas 100% do tempo, só as retirando para as oportunidades de xixi e cocô, oferecidas ao nenê de vez em quando.
Cada bebê tem suas próprias linguagens corporais e vocalizações quando está para eliminar xixi ou cocô. Há bebês que se comunicam melhor e, outros, são mais discretos. Enquanto alguns bebês ficam agitados antes de fazer suas necessidades, há outros que ficam mais calmos e plácidos. Os cocôs são fáceis de perceber e também acontecem menos que os xixis.
Em alguns países do Oriente, África, Índia e Oriente Médio, os bebês são ensinados a chorar quando precisam fazer xixi - e ‘ai’ da mãe que não ensina direito sua criança! Ela vira motivo de riso entre as outras. A mãe que se deixa molhar pela urina de seu filho é vista como incapaz e desconectada da criança, de tão básica que é esta abordagem. Em vários países não há um nome específico para essa técnica, simplesmente porque este é o jeito que as coisas são feitas há milhares de anos e pronto. Na China, as calças infantis são feitas com um buraco no meio, para facilitar o método, e isto é milenar!
Agora, com a entrada voraz da cultura Ocidental no Oriente, muitas famílias querem usar fraldas para se parecerem conosco. É triste pensar que um método tão natural e tão enraizado na cultura de um país continental está sendo abandonado. Imagine o lixo gerado se todos os bebês chineses usarem fraldas descartáveis?! Inimaginável! A fralda descartável é o segundo item mais encontrado em lixões - atrás apenas de jornais. Uma criança pode usar, até os dois anos de idade, mais de cinco mil fraldas! Imaginem isso!
Voltando ao assunto, há diversas maneiras de fazer a comunicação da eliminação. Os bebês têm padrões de eliminação: assim que acordam; após se alimentarem; tantas vezes por hora. Os cocôs passam a acontecer num horário conhecido do dia, ou ficam muito óbvios, pois os corpinhos dos pequenos se contorcem e eles fazem gemidos de força. A Joana costuma chorar um pouquinho quando quer fazer xixi. Quando sinto que ela está desconfortável, logo ofereço uma oportunidade para ela se aliviar, seja no penico, na pia, na privada, na grama do jardim. Que lindo é ver a criança fazer o xixi assim que colocada na posição. É algo transformador! Imaginar que podemos nos comunicar com nossos filhos nesse nível de entendimento. É uma alegria tremenda e vale todo o esforço.
Meu maridão, Paschoal, sempre me apoiou e desde o início da prática me auxilia com carinho. Quando ele percebe a necessidade da pequena e a coloca pra fazer o xixi, e acontece, ele fica todo feliz! Minha mãe acha demais que isso possa acontecer e fica boba toda vez que a Joana usa o penico. Minha tia conta para todos que sua sobrinha-neta não usa fraldas. Aos poucos meus amigos começam a querer ajudar também, tentando ler os sinais da pequena e se conectarem. Dizem: ’Acho que sua pequena quer fazer um xixizinho!’.
Os bebês têm, sim, a percepção de suas eliminações e o método comprova isso. Com o uso contínuo da fralda descartável, que solidifica a urina com um gel químico, faz com que os bebês percam essa consciência - já que fazem xixi, mas não se molham. Com o passar do tempo o bebê "esquece" de seu esfíncter, pois faz xixi e não ‘sente’ nada. Depois temos de ensiná-los novamente a tomarem consciência desse músculo - e há muitas histórias de desfraldes traumáticos às crianças. Nós os ensinamos todo o tempo a fazerem de suas calças seus penicos e, depois, temos de ensiná-los novamente? Não parece muito justo para mim. Parece toda uma cultura baseada em ‘segurar’ suas necessidades, ao invés de liberá-las. Se as necessidades de nossos bebês são respondidas desde o início, eles não precisam ser treinados a reconhecê-las de novo.
Existem diversos motivos para os pais escolhem fazer a higiene natural infantil, assim como diversas críticas a ela. Como dito, é um método que existe há muitos anos, mas ultimamente tem estado em evidência, pois muitas famílias estão aderindo e praticando com seus filhos. O ideal é começar desde o nascimento, a partir do mecônio (primeiro cocô do nenê), mas existem os "late-starters", que começam após os seis meses da criança ou mais. Pode ser mais difícil, mas não impossível. Existem famílias que logo deixam os bebês sem fralda 100% do tempo, outras que mantêm a fralda 100% do tempo e tira-a para oferecer a oportunidade do xixi. Muitas famílias carentes, sem condições de comprar fraldas, praticam o método sem nem saberem.
São inúmeros benefícios e eu recomendaria aos interessados uma leitura mais profunda no tema. O importante é manter uma postura relaxada e positiva ao fazer a higiene natural. Os acidentes fazem parte do processo, mesmo em desfraldes nas crianças de dois anos. Este método não é desfralde prematuro, mas sim comunicação com bebês.
Existem situações especiais e diversas dúvidas que podem ser sanadas com os textos disponíveis na internet. Infelizmente, a maioria deles é em inglês. Aliás, penso em escrever um livro sobre minha experiência com a Joana. Acho um método eficaz e muito higiênico, que produz muito conforto para o bebê, além de evitar assaduras, aumentar o contato ‘pele a pele’ entre mãe e filho, aumentar a participação do papai com os cuidados com os pequenos, regular a digestão, criar consciência corporal, economizar dinheiro, ser uma solução ambiental, facilitador da independência dos bebês, desenvolver a intuição dos papais, além de ser divertido! Portanto, informe-se! Há muito a ser dito sobre o tema. Para praticar o fundamental é ter amor! Cada família acha o melhor jeito de praticar a comunicação de eliminação: o seu jeito!".
Livros recomendados (em inglês):
Diaper Free, de Ingrid Bauer, e Infant Potty Training, de Laurie Boucke
Relato de Mariana Maffei Feola / Texto de Viviam Santos
Grande beijo,
Ana Maria
Quando foi divulgado no meu Facebook a foto da minha filha Mariana, segurando em um penico a minha neta Joana, muitos comentários foram feitos em toda a web questionando o método. Pouco se sabe, mas tal técnica é chamada de "higiene natural", em português, e "elimination communication", em inglês.
Antiga e comum em alguns países do oriente, essa é uma escolha de muitos pais pelo mundo que viram mais vantagens que o uso de fraldas. Por isso, pode ser uma boa escolha para aqueles que irão acompanhar o crescimento de seus bebês de perto, o tempo todo. Leia abaixo o relato exclusivo de Mariana, que conta tudo sobre a higiene natural que pratica com sua filha - desde quando a pequena Joana tinha duas semanas de idade!
"O método da comunicação da eliminação, ou ‘elimination communication’, está cada vez mais famoso no ocidente. Existem vários livros sobre o tema, dos quais eu li dois: um da autora americana Ingrid Bauer, intitulado ‘Diaper Free’, e o outro da famosa e expert no assunto Laurie Boucke, ‘Infant Potty Training’. Há diversos nomes para essa abordagem da higiene com os bebês e cada pessoa usa o termo que mais se aproxime do que é realizado.
O essencial é que tentemos ler os sinais que os pequenos mostram, em diversos níveis, e que respondamos às suas necessidades básicas - no caso, de eliminação. Os bebês têm as mesmas sensações que os adultos ao fazer cocô e até xixi. O que precisamos é estar atentos e disponíveis para ajudá-los, como com todo o resto: alimentação, vestuário, banhos e também (porque não?) xixi e cocô. É fantástico como as respostas são rápidas! E como ficam felizes de se comunicarem conosco em tantos níveis.
Não me vejo mais trocando fraldas, como fiz nas primeiras duas semanas da pequena. É algo único, mas não para todo mundo. Precisa haver um profundo interesse da mãe, ou cuidador, em se comunicar com o bebê e responder às necessidades deles na hora em que elas aparecem - isso é fundamental. Na troca de fraldas, lidamos com a eliminação do bebê após ela acontecer. Na higiene infantil isto é feito antes, ou melhor, no ato da necessidade dos anjinhos.
Um dado interessante é o de que 50% das crianças do mundo são criadas sem fraldas. Em quase todo o oriente, as culturas vêm lidando com a eliminação de seus bebês através da observação de seus sinais que, depois de um pouco de prática, se tornam óbvios. Fico imaginando quantos choros de bebês são mal interpretados, quando o que eles querem é só fazer um xixizinho básico.
Comecei a higiene natural quando Joana estava com duas semanas de vida fora do útero. Antes do nascimento da pequena eu havia optado por usar fraldas de pano, mas com o calor resolvi deixá-la sem fraldas e fui pesquisar na internet qual seria a fralda perfeita, para que minha pequena não ficasse toda cheia de calor! Foi quando li um artigo sobre o ‘elimination communication’. Na hora me identifiquei com o conceito e meu marido e eu nos jogamos de cabeça, deixando Joana sem fraldas 100% do tempo que ficávamos em casa. Agora, aos três meses da boneca, de maneira geral não usamos fraldas - incluindo saídas. É incrível como os bebês tem controle e capacidade de reter urina, que aumenta com o passar das semanas.
Sinto progresso na nossa comunicação a cada dia. Vai ficando fácil e natural, por isso a confiança de sairmos de casa sem que a Joana use fraldas! Uso banheiros nos locais públicos, colocando minha Joana para fazer seu xixi na pia. Há poucos dias introduzi o pinico infantil, e o levo nas viagens e na casa dos vovôs. Ela agora usa calcinha para nenês! Que lindo é ver um bebê sem aquela almofada de fralda no meio das perninhas tão pequenas. Há pessoas que praticam o método usando fraldas 100% do tempo, só as retirando para as oportunidades de xixi e cocô, oferecidas ao nenê de vez em quando.
Cada bebê tem suas próprias linguagens corporais e vocalizações quando está para eliminar xixi ou cocô. Há bebês que se comunicam melhor e, outros, são mais discretos. Enquanto alguns bebês ficam agitados antes de fazer suas necessidades, há outros que ficam mais calmos e plácidos. Os cocôs são fáceis de perceber e também acontecem menos que os xixis.
Em alguns países do Oriente, África, Índia e Oriente Médio, os bebês são ensinados a chorar quando precisam fazer xixi - e ‘ai’ da mãe que não ensina direito sua criança! Ela vira motivo de riso entre as outras. A mãe que se deixa molhar pela urina de seu filho é vista como incapaz e desconectada da criança, de tão básica que é esta abordagem. Em vários países não há um nome específico para essa técnica, simplesmente porque este é o jeito que as coisas são feitas há milhares de anos e pronto. Na China, as calças infantis são feitas com um buraco no meio, para facilitar o método, e isto é milenar!
Agora, com a entrada voraz da cultura Ocidental no Oriente, muitas famílias querem usar fraldas para se parecerem conosco. É triste pensar que um método tão natural e tão enraizado na cultura de um país continental está sendo abandonado. Imagine o lixo gerado se todos os bebês chineses usarem fraldas descartáveis?! Inimaginável! A fralda descartável é o segundo item mais encontrado em lixões - atrás apenas de jornais. Uma criança pode usar, até os dois anos de idade, mais de cinco mil fraldas! Imaginem isso!
Voltando ao assunto, há diversas maneiras de fazer a comunicação da eliminação. Os bebês têm padrões de eliminação: assim que acordam; após se alimentarem; tantas vezes por hora. Os cocôs passam a acontecer num horário conhecido do dia, ou ficam muito óbvios, pois os corpinhos dos pequenos se contorcem e eles fazem gemidos de força. A Joana costuma chorar um pouquinho quando quer fazer xixi. Quando sinto que ela está desconfortável, logo ofereço uma oportunidade para ela se aliviar, seja no penico, na pia, na privada, na grama do jardim. Que lindo é ver a criança fazer o xixi assim que colocada na posição. É algo transformador! Imaginar que podemos nos comunicar com nossos filhos nesse nível de entendimento. É uma alegria tremenda e vale todo o esforço.
Meu maridão, Paschoal, sempre me apoiou e desde o início da prática me auxilia com carinho. Quando ele percebe a necessidade da pequena e a coloca pra fazer o xixi, e acontece, ele fica todo feliz! Minha mãe acha demais que isso possa acontecer e fica boba toda vez que a Joana usa o penico. Minha tia conta para todos que sua sobrinha-neta não usa fraldas. Aos poucos meus amigos começam a querer ajudar também, tentando ler os sinais da pequena e se conectarem. Dizem: ’Acho que sua pequena quer fazer um xixizinho!’.
Os bebês têm, sim, a percepção de suas eliminações e o método comprova isso. Com o uso contínuo da fralda descartável, que solidifica a urina com um gel químico, faz com que os bebês percam essa consciência - já que fazem xixi, mas não se molham. Com o passar do tempo o bebê "esquece" de seu esfíncter, pois faz xixi e não ‘sente’ nada. Depois temos de ensiná-los novamente a tomarem consciência desse músculo - e há muitas histórias de desfraldes traumáticos às crianças. Nós os ensinamos todo o tempo a fazerem de suas calças seus penicos e, depois, temos de ensiná-los novamente? Não parece muito justo para mim. Parece toda uma cultura baseada em ‘segurar’ suas necessidades, ao invés de liberá-las. Se as necessidades de nossos bebês são respondidas desde o início, eles não precisam ser treinados a reconhecê-las de novo.
Existem diversos motivos para os pais escolhem fazer a higiene natural infantil, assim como diversas críticas a ela. Como dito, é um método que existe há muitos anos, mas ultimamente tem estado em evidência, pois muitas famílias estão aderindo e praticando com seus filhos. O ideal é começar desde o nascimento, a partir do mecônio (primeiro cocô do nenê), mas existem os "late-starters", que começam após os seis meses da criança ou mais. Pode ser mais difícil, mas não impossível. Existem famílias que logo deixam os bebês sem fralda 100% do tempo, outras que mantêm a fralda 100% do tempo e tira-a para oferecer a oportunidade do xixi. Muitas famílias carentes, sem condições de comprar fraldas, praticam o método sem nem saberem.
São inúmeros benefícios e eu recomendaria aos interessados uma leitura mais profunda no tema. O importante é manter uma postura relaxada e positiva ao fazer a higiene natural. Os acidentes fazem parte do processo, mesmo em desfraldes nas crianças de dois anos. Este método não é desfralde prematuro, mas sim comunicação com bebês.
Existem situações especiais e diversas dúvidas que podem ser sanadas com os textos disponíveis na internet. Infelizmente, a maioria deles é em inglês. Aliás, penso em escrever um livro sobre minha experiência com a Joana. Acho um método eficaz e muito higiênico, que produz muito conforto para o bebê, além de evitar assaduras, aumentar o contato ‘pele a pele’ entre mãe e filho, aumentar a participação do papai com os cuidados com os pequenos, regular a digestão, criar consciência corporal, economizar dinheiro, ser uma solução ambiental, facilitador da independência dos bebês, desenvolver a intuição dos papais, além de ser divertido! Portanto, informe-se! Há muito a ser dito sobre o tema. Para praticar o fundamental é ter amor! Cada família acha o melhor jeito de praticar a comunicação de eliminação: o seu jeito!".
Livros recomendados (em inglês):
Diaper Free, de Ingrid Bauer, e Infant Potty Training, de Laurie Boucke
Relato de Mariana Maffei Feola / Texto de Viviam Santos
Grande beijo,
Ana Maria